segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Os menores frascos importam-se com os maiores narizes

Está a maior guerra civil no Egito. E isso me lembrou de um texto escrito há um anoealgumacoisa atrás pra um freela:

Cleópatra pensou no tombo que levou quando era criança segundos antes de suicidar-se. Perder a independência do Egito a atormentava, mas nem lembrou disso quando estava prestes a entregar sua nobre alma a Osíris. Na sua cabeça passava a imagem de Augusto olhando meio contrafeito para seu nariz entortado e assimétrico.

Não bastou gastar fortunas dos cofres públicos para esticar os cabelos meio tonhónhóin com o sal extraído do Nilo ou ficar com frio nas “partes” depois de banhar-se com a lua canalizando sua energia yin para o encontro. TUDO que aprendeu como sacerdotisa não comoveu Augusto, nem ao menos quando baixou o nível e remexeu até o chão lânguida como uma periquita saltitante.

Augusto olhou, um quê entediado, um quê analisando a situação e disse já pensando em outra coisa:

Nah, Nah, Cléo. To afim, não. Exército do império Romano? Avanti!

O que havia funcionado com César e Marco Antônio não surtiu efeito com Augusto que estava mais para Jonas Brothers do que Charlie Sheen; preferia a fama do que perder a extensão do seu império por um pedaço de carne.

Napoleão era um baixinho invocado que já tinha agradado a vizinhança ao entrar para a carreira militar. Como todo bom meio metro de gente contava vantagem que era uma beleza. Conseguia uma ou outra baixotinha, vesga e estava bem feliz com sua situação.

Os companheiros, entretanto, não deixavam que ele esquecesse dos quinze centímetros que transformavam o homem Bonaparte em uma pequenina bolinha cômica:

Napoleão, conta aí para os truta, tamanho é documento?

E lá ia o baixinho a sofrer ataques homéricos de gastrite nervosa. Contorcia-se, vermelho e colocava a mão na barriga. Os colegas de farda não faziam por mal. É que não tinha muita coisa para distraí-los, ficavam meses isolados e o general andou numas de proibir as mulheres de chegarem aos acampamentos. Claro que assim como Romário e Ronaldo, os oficiais davam sue jeitinho, mas com sorte o que encontravam era uma francesa sem banho.

Anos e anos aguentando as piadinhas infames com o seu tamanho, vendo a a gastrite aumentar e corroer seu estômago de tal maneira junto com o desejo de mostrar pros outros que não era um mané atarracado que sua cólera motivada pelo pus que subia pelo esôfago foi ganhando espaço e ele enfim conseguiu mostrar ao mundo e a toda a França o gigante que sabia que era. Josephina,infelizmente, conseguiu o que nem Waterloo teria sido capaz: transformou em pó a auto estima que levou anos para conseguir. Ao pegar a esposa no flagra, na cama com outro homem, Napoleão, mão na barriga para conter a azia, desolado mediu o tamanho dos dois e perguntou:

Como, Oh Josephina, como? Não é possível que você tenha conseguido arranjar um homem menor do que eu para dar a perseguida!

Fosse o nariz de Cleópatra menor ou a altura de um oficial de província maior, Egito não teria perdido a independência e a Europa não teria sua face modificada pela França.

Vê?

Coisas pequenas ou narizes grandes modificam toda a história.

A igreja é minha Anta


Tanta procura pelo inferno se é no corpo humano que ele se encontra. Não é a vida que faz sofrer tanto é este teu apreciar o sofrimento que amedronta.

Lê nos jornais: o desrespeito por causa de cor, o espancamento por uma opção sexual, um representante de Deus molestando uma criança. Ou simplesmente um pai que estupra um ser que é sua própria esperança.

Não faz nada. E deixa pro seu filho isto como herança.

Depois se faz de ofendido. Vai ao seu culto e fica convencido que com todo esse protesto profundo doou o melhor que podia ao mundo. E quando a dor desconcertar recorrerá ao salvador, mas enquanto ela não for sua; basta sorrir e fingir um ridículo pesar. Afinal, a desgraça não está sob seu teto, é sim no de seu vizinho perdedor. Fugir disso é fugir a realidade. Fingir que é puritano enquanto a sua alma exala forte o cheiro da mediocridade.

Vai lá e procura na técnica de uma religião o Deus que nunca existiu no teu coração!

O papel que há de se representar está aonde seus olhos podem ver. Protagonista ou coadjuvante não interfere na alma só a faz perder. Se há dor é porque houve alegria, se há paz alguém acreditou na hipocrisia. É humano não ser perfeito, mais humano ainda acreditar na perfeição. Lamentável é não tomar nenhuma atitude quando somos uma raça privilegiada com a opção.
O homem adora se apoiar na falta de escolha ignorando o instinto animal que observa a probabilidade. A escolha o faz somente retirar vantagem de tudo que o controla. Bem essa é que é a verdade. É ser destruído, corroído e estar satisfeito. Para notar que sua existência é melhor é não socorrer quem necessita. Amigar-se com o tal do diabo ao mesmo tempo que o critica. Não perceber que todos já nascem nobres, mas é por esquecer de ser humanos é que acabamos assim tão pobres.

Na verdade faz muito bem. Volta lá pra tua igreja ou pro teu círculo rude de amizades. É melhor não analisar o que temos de complexo, porque nos tornamos miseráveis quando analisados.

Estagnação


Estagnação uniforme que me corrói.
A falta de palavras é um estado brando. Ali deixo escondido meu desespero, minha fúria contida. O ócio, o tédio. MEU nada.

Nunca me permito fracassar mesmo sabendo qual o gosto acre da derrota.
Não me permito ser ninguém enquanto nem sei se algum dia eu fui alguém.
Nunca me permito permitir. Paradoxalmente o que mais faço são concessões.

Marasmo maldito, que destrói o que creio ser bom.
Me mata ver em quem um dia amei, quatro paredes medíocres sugarem seus dons.

Paredes engorduradas que escorrem o ranço da imperfeição.
Mas que sei eu? Ou quanto posso julgar? Se não sou, nem há um único ser neste mundo que tenha cem por cento de razão.
O que sei é da consciência do que sou incapaz. E da instância de minhas próprias mentiras.
Aos outros. Que percam-se em si. Não posso eu tentar compreender o que foge de minha mão.

Torturante consciência.
Ávida de emoções e presa em um corpo preguiçoso e desinteressado.


Inadmissível ao meu ver. Pois só posso ignorar o que não é compreendido.

Beppo



Preciso de ti. Tu me diz. Eu quase vomito. E então eu repito. Revira teus olhos. E daí me sorri.
Clichê.
É sempre clichê quando as palavras são roubadas.
Não há nada mais patético que alguém apaixonado. Dois, então; é de todo um suicídio meloso.

Mas me deixa, então. Ou deixa-nos.
Deixa as lembranças que são sobreviventes, por que de resto, resta a experiência ensinar: esqueça.

Já me basta apagar da memória minhas farras descabidas, as noites mal dormidas e as ações desmedidas.

O dia já foi muito pesado. Tua presença é só o recado dizendo ao meu corpo que está tudo bem.

Fecho os olhos e seguro tua mão.

Lá fora a lua brilha ainda mais.

Deixo estar. Deixo ser.
Se é teu fogo que aquieta meu demônio:
Te espero acordada pra trocarmos um pouquinho de paz.