quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Childe Harold's Pilgrimage




Eu escrevo cartas para mim mesma. Não de enviar pelo correio e tal, ora por favor. Já fui atropelada por fuscas, coleciono bíblias, l falo sozinha, surto sem motivo, mas não envio cartas pelo correio.Ah, não, não. Eu escrevo e guardo. É que as vezes sinto-me ausente, as vezes eu esqueço de mim e escrevo para lembrar.

Desde pequena, pequenininha, tenho muita responsabilidade. Desde sempre tenho um milhão de coisas para fazer enquanto gritam no meu ouvido e jogam as próprias responsabilidades sobre meu colo. Se quer saber, consigo vislumbrar a dor megalomaníaca de um ser perdido em sua Neverland. Consigo admirar a cor vermelha do passional dentro da explosão negra da tragédia. Tenho essa mania idiota de pegar a dor do outro e fazer minha. Só tive de aprender lidar com a minha própria infantilidade e mesmo tão acostumada a lidar com tudo, comigo aprendi da forma mais complicada.

Crescer e tomar decisões é doloroso. Realizar o que é necessário ao invés do que se quer é muito sem graça. Fica mais interessante quando a gente vê o filme já sabendo do final feliz, mas o caminho é o mesmo se sair com dignidade pela janela, porque o destino final na linha reta da porta não elimina os tombos acidentais. E no final vale o esforço expurgando até o último grau do meu Karma.

Hoje eu escrevi mais umas cartas e li outras. As que eu escrevi são tão incertas quanto tudo neste mundo, sustentam-se apenas pela minha certeza cética e desvairada que o planeta inclina-se para dar vazão a enchente. Umas cartas eu li automaticamente, frases soltas e imagens aleatórias, empoeiradas, de quando me sentia ausente, pensando que um dia as utilizaria em meu futuro presente. Cartas que pensei ter escrito com dor, quem sabe na época pensasse ser ódio,frustração ou vazio. Hoje me trazem a certeza, que foram escritas somente com amor.

2 comentários:

  1. ohh que bonito! eu tenho duas caixas e um caderno cheios de cartas, uns desabafos. leio e fico assustada e admirada também. me deu saudade daquela energia super rebelde, mas me sinto feliz em usar hoje esta energia com mais inteligência, e com menos desgaste, menos energia também.
    escrevi uma carta pro meu namorado hoje, ele está na minha casa, poderia falar tudo daqui meia hora. mas escrever tem um poder diferente, quando se trata de elaboração de alguma coisa.
    a gente acaba transformando apego, dor, egoísmo e tantos vícios em consciência, que desta maneira podemos olhá-la, observá-la, aceitá-la. eis o passo, o primeiro e talvez o único pra sair da gororoba gigante.

    =*

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  2. Olá querida amiga Teresa Almeida, eu nunca fui um bom escriba. Sempre fui um bom ouvinte, hoje, nem tanto! Segundo meu saudoso pai, quem muito ouve, é porque morre de medo de falar,sei não! Eu acho que aquele danado tinha razão. Menina! No tempo da faculdade, um fusca passou em cima do meu pé esquerdo, fiquei quinze dias com gesso. Você não está mais só!O que mais me entristeceu, foi que fiquei quinze dias sem bater uma bolinha.

    forte abraço

    C@urosa

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